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Reforma de zoo do Rio de Janeiro é secundária, diz jornal

 

TÍTULO Obras adiáveis
AUTOR Desconhecido
DATA 22 de fevereiro de 1946
LOCAL Rio de Janeiro
FONTE O Estado de S.Paulo
REPOSITÓRIO Acervo Estadão
DESCRIÇÃO Jornal do Distrito Federal (Rio de Janeiro) critica obras que o prefeito pretende realizar, incluindo a reforma do jardim zoológico local, sendo que a população ainda sente a falta de condições básicas de vida (saneamento básico, moradia etc).

 

Zoo amador na Vila Guilherme supera coleção de animais do Jardim de Aclimação

 

TÍTULO Um Jardim Zoológico completo em Vila Guilherme
AUTOR Hermillo G. Pacheco
DATA 16 de fevereiro de 1946
LOCAL São Paulo
FONTE Folha da Noite
REPOSITÓRIO Acervo Folha
DESCRIÇÃO

Primeira menção encontrada sobre o zoológico amador de propriedade de Agenor Gomes, na Vila Maria.

Transcrição da reportagem após consulta em acervo físico:

UM “JARDIM ZOOLOGICO” COMPLETO EM VILA GUILHERME

Curiosa descoberta da “Folha da Noite” – Grande Variedade de Exemplares – Um macaco japonês, de olhos amendoados e um galo de chifre, do mesmo país – Um símio africano, avaliado em mais de 150 mil cruzeiros, que não se apoia pela cauda e possui unhas e dedos iguais aos do homem – Confronto entre o Zoo particular e o que resta do antigo Jardim da Aclimação

Texto de Hermillo G. Pacheco

Fotos de Sergio Linn

Em meio ao ambiente de intensa agitação, em que assuntos dos mais palpitantes, como a onda de greves que, cada vez mais, se alastra; como a questão entre a Justiça e a Polícia e como a situação política, por demais em efervescência, em meio a tal ambiente – repetimos – de total confusão, não há repórter capaz de satisfazer as exigências de um Secretario de jornal. Numa situação, como a que atravessamos no momento, em que o jornalista se vê à braços com uma série de problemas a analisar e compreender, mesmo quando os fatos não se aplicam com clareza e os próprios homens já não demonstram absoluta compreensão das coisas , dominados por paixões as mais diversas, com a maior naturalidade dêste mundo se exige que o repórter focalize todos os assuntos que agitam a opinião pública com o mais absoluto rigor e imparcialidade. “Quero êste assunto deslindado, como deve ser. Nada de “lero-lero”. Traga-me os fatos concretos, positivos”. E o pobre do reporter que se arranje como puder e não volte ao jornal de mãos abanando.

PROCURANDO ENTENDER OS BICHOS

E não sendo sempre possível entender os homens, rodávamos de carro, acompanhados do fotógrafo, por aía fora, quando, ao acaso, deparamos o Jardim da Aclimação. Revolvemos visitá-lo, com o propósito de arejar a mente. De repente, um pensamento nos assaltou. Se procurássemos escrever qualquer coisa sobre os bichos?…Pelo telefone, o Secretário responde: “Vá lá, que seja.” Mais tranquilos, passamos a visitar o antigo “Jardim da Aclimação”. Antigos, dissemos, porque em tempos idos, ali era, de fato, um jardim de grandes dimensões, bem tratado, tendo ao centro imenso lago, onde pequenos barcos constituíam a delícia dos visitantes. Um parque de diversões, com balanços e outros divertimentos, era a principal atração das crianças. Hoje, porém, o que ali se vê, é verdadeiramente desolador. O terreno, sem qualquer trato e completamente abandonado, não mais lembra o antigo parque. O lago secou de todo. As crianças, umas poucas crianças que ali ainda aparecem de quando em quando, à falta de balanços, brincam sobre galhos de árvores caídas.

O JARDIM ZOOLOGICO

Ao tempo em que o parque pertencia ao Sr. Carlos Botelho, havia ali um “Jardim Zoológico”, contendo uma variedade interessante de animais, entre os quais se destacavam um leão, uma leôa, uma onça e um camelo, que morreram de velhos. Há 6 anos, o Parque foi vendido à PRefeitura Municipal por dois milhões e oitocentos mil cruzeiros. Daí por diante é que começa a decadência do parque e do Jardim Zoologico. Sem qualquer trato e renovação dos animais, cuja maioria foi morrendo, somente alguns poucos exemplares restam. Entre êstes, está um casal de ursos árticos, cuja fêmea está para dar cria. Ambos estão mal alojados e ressentem-se de trato adequado. Nas mesmas condições se encontram quatro gaviões, sendo três da raça ‘cará’, alguns macacos, um cachorro do mato, dois quatis, quatro suriamas, dois jacarés, sendo um pequeno; um porco do mato, um jaburú brasileiro, um pelicano estrangeiro, um lagarto e dois mutuns. Em matéria de animais, o maior número é o de jumentos soltos no parque. O trato dos exemplares está confiado a um único zelador. Três guardas, que se revezam em períodos de sete horas de trabalho, são os únicos funcionários existentes . Mal pagos, limitam-se a evitar que os animais sejam importunados pela molecada da redondeza e que casais desabusados penetrem no parque.

UM “JARDIM ZOOLÓGICO”

Deixamos já o antigo parque, que tão mal impressão nos causara, quando, a saída, encontramos um cidadão, que nos informou da existência de um outro “Jardim Zoológico”, de propriedade de um amador, o Sr. Agenor Gomes, situado em Vila Guilherme. Para lá nos dirigimos e, numa imponente chácara, muito bem tratado, tivemos ensejo de conhecer o referido Zoo. Constrastando com o da Aclimação, o do Sr. Agemnor Gomes é um primor. As instalações, amplas e arejadas, submetidas a um regime rigoroso de higiene, comportam grande variedade de animais, desde os mais raros. Acompanhados pelo próprio dono, percorremos todo o parque. Dos exemplares ali expostos, destacamos os seguintes: 

4 tucanos nacionais de três variedades; 1 ararita do Norte; 2 papagaios do Amazonas; 1 periquito amarelo espécie muito rara; 2 papagaios baianos; numerosos periquitos, compreendendo 16 variedades do Norte; 1 periquito japonês e 1 papagaio da mesma nacionalidade de olhos amendoados, não tendo nariz e de cor verde e de encontros vermelhos, azuis e pretos, verdadeira preciosidade. Um cacatu branco de tope azul da Austrália; 2 araras “Canindé”, do Brasil; 2 araras “Una”, e uma “Ipiranga”, de cores vermelha, amarela, azul, verde e rosa, também verdadeira raridade; 2 araras espanholas, igualmente de cores variadas, do Brasil; faisões “King-neck” da China, “Prateado” e “Nepal” preto, do mesmo país; 1 casal de angolas brancas da África, um galo de chifres do Japão, outra raridade; 1 casal de jacus e outro de jacu-mirim; 1 casal de socó-boi; 1 casal de pavões indianos; 1 casal de mutuns do Mato Grosso; 1 casal de jacarés com filhotes, 1 casal de lagartos; 1 de tartarugas; 1 casal de urubu-rei do Brasil, muito raro.

OUTROS ANIMAIS

Encontramos também casais de capivaras, ratos do banhado, porcos caetetus, tatus, cervo “Nobre Alemão”, veado da Índia, da Asia e “Catingueiro” ema, ou avestrus do Brasil, uma imponente zebra, da Africa, cutãs, da Asia Ocidental, que são pequenos burricos de meio metro de altura; casal de ursos americanos pretos e 1 urso ártico; e um casal de jaguatirica, do Brasil; 1 suçuarana de meses, ainda sem dentes, de Mato Grosso, mais conhecido como onça puma; 1 lindo macaco africano, espécie muito rara, pelo qual o sr. Agenor já recebeu a oferta da Europa de mais de 150 mil cruzeiros. O referido animal, cujo pelo é de uma variedade esquisita de cores, possue ainda a particularidade de não se apoiar na enorme cauda, e tem unhas e dedos exatamente iguais ao do homem. Vimos, também, 1 macaco preto, chamado “guatá-aranha”; 1 casal de macacos africanos; 2 cachorros do mato, o conhecido “chacal”; casais de gato do mato, macaco-prego e do Amazonas, bem como guati de várias cores e uma criação de gambás. Como vemos, a lista é enorme. Além de bem tratados, os animais recebem constante assistência veterinária. 

POR AMADORISMO

Pelo que nos informou, o Sr. Agenor Gomes mantém o referido parque por amadorismo, ou melhor, para sua satisfação pessoal. Mensalmente emprega cerca de 10 mil cruzeiros para a manutenção dos bichos, cujo valor total é estimado em mais de um milhão e duzentos mil crueiros. Alguns dos exemplares que possuía foram emprestados ao Jardim Zoológico do Rio, que até agora ainda não os devolveu.

Adiantou-nos ainda, que se Prefeitura concedesse, êle estaria disposto a adquirir os animais que se encontram na Aclimação, a fim de dar-lhes melhor tratamento.