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Cresce popularidade de Zoológico do Agenor, zoo amador na Vila Guilherme

 

TÍTULO Zoologico do Agenor, uma distração que o público não conhece
AUTOR Henrique Matteucci
DATA 19 de fevereiro de 1951
LOCAL São Paulo
FONTE Folha da Noite
REPOSITÓRIO Acervo Folha
DESCRIÇÃO Reportagem sobre o zoo amador de Agenor Gomes na Vila Guilherme entrevista proprietário.

 

Transcrição da reportagem após consulta no acervo físico:

‘ZOOLOGICO DO AGENOR’, UMA DISTRAÇÃO QUE O PÚBLICO NÃO CONHECE

Leões, camelos, ursos e centenas de outros animais num pitoresco parque de Vila Guilherme. O orgulho do camelo e a educação da chimpanzé. Aberto ao público

Texto de Henrique Matteucci

Fotos de Amilcar Bagnatori

São Paulo não é uma cidade sem divertimentos. Os cinemas podem não corresponder ao grande numero de assistentes e os teatros são realmente tão caros como se fossem tabelados pela C.E.P…Mas e os passeios publicos? E o Horto Florestal com sua vegetação abundante e exotica, a sombra e a agua fresca dos seus lagos? E Interlagos, com suas praias e seus bosques? E o ZOOLOGICO DO AGENOR?

Ah! O Zoologico do Agenor!

São Paulo tem mais de dois milhões de habitantes, mas provavelmente apenas umas vinte mil pessoas sabem da existência de um Jardim Zoologico nesta cidade, que só perde, em tamanho e variedade de bichos, para o magnifíco Zoo da Quinta da Boa Vista, no Rio de Janeiro. É o segundo ou o terceiro do Brasil, embora o grande público não saiba disso nem o governo.

ABERTO AO PUBLICO

O Zôo é propriedade do sr. Agenor Gomes, que o mantem há oito anos, embora somente há quatro meses tenha aberto suas portas ao publico. Pouca gente sabe de sua existencia, como dissemos, mas sua popularidade está crescendo dia a dia , tanto assim que já existe até uma linha de ônibus (que felizmente não pertence à C.M.T.C.), saindo do largo da Concordia e com ponto final a sua porta. 

– “Aos sábados e domingos” – diz Agenor – quando abro o jardim ao publico, os onibus descarregam dezenas e dezenas de pessoas, que vêm conhecer meus bichos. Previno, porem, que não o faço com espirito comercial, pois a baixa arrecadação não paga sequer a comida das aves. Além disso, todos os meus amigos sabem que há muitos anos me dedico à zoologia, por pura recreação.

A BICHARADA

O Zoologico do Agenor tem de tudo, desde o simples e popular papagaio brasileiro e o mais feroz leão africano, até o mais raro faisão dourado da China. A reportagem das FOLHAS, que esteve em visita ao pitoresco parque de Vila Guilherme, pôde ver aves e bichos raríssimos: logo á entrada, solts sobre a grama, uma arara do Amazonas, com tantas cores nas penas que até fazia lembrar uma porta de tinturaria. Mais adiante, em gaiolas, jaulas ou pequenos pastos, um pavão da Índia, um cacatu da Austrália, um chimpanzé da África, um casal de leões também da África, ursos da Russia e Arabia, bufalos dos E.U.A., lobos europeus, uma rarissima arara azul do Amazonas, papagaios africanos e nacionais, lagartos, macacos japoneses e brasileiros, antas e um infinidade de outros bichos, que só vendo mesmo…

Junto com o feroz antilope India (que por várias vezes investiu contra a cerca de arame farpado do pasto, doido para chifrar os que o espiavam), vive uma vaca mestiça, dessas comuns que se podem ver em qualquer pasto. Mas essa é uma aberração, pois do cangote caem-lhe duas patinhas de uns trinta centimetros de comprimento. 

Os animais de maior atração para o publico são os leões, ursos, os camelos e uma chimpanzé da Africa, sem contar, naturalmente, as avez multicoloridas, que podem encher de alegria a vida da garotada. Os ursos, todos pardos, tanto os da Russia como os da Arabia, são bastante mansos (embora não se deva arriscar muito) e apanham da mão, com toda delicadeza, o pão que o Agenor lhes dá para agradá-los. Os lobos são ferozes e traiçoeiros e os camelos, contrariando as lendas que os descrevem humildes, são orgulhosos e mal educados.

“CHITA”, A AMOROSA

Ainda não tinhamos visto a chimpanze e não esperávamos que fosse tão instruída como se mostrou depois. Para começar, chamou nossa atenção batendo palmas e depois exigiu um beijo do Agenor. Gomes explicou-nos que tem obrigação de beijá-la duas vezes por dia, pois do contrário ela recusa-se a comer. “Chita” -esse é o seu nome- fumou, comeu no prato e limpou o chão da jaula com um saco de estopa, tudo a titulo de demonstração para os visitantes. Agenor disse-nos que ela sabe até guiar carro e que só não fica solta porque tem um péssimo costume: abrir a jaula dos leões.

Quando nos retiramos, “Chita” quis mais um beijo e protestou com grandes alaridos porque o Agenor negou-o.

MUITO CARA A ARTE

Agenor Gomes ama seus animais como se fossem todos filhos. Em todas as jaulas e ao lado das gaiolas teve o cuidado de escrever frases pedindo aos visitantes que não os maltratem. 

– “Um leão é naturalmente muito feroz – disse ele – mas se não está com fome não ataca, a não ser que o maltratem. Alem disso, todos os bichos, até o leão, têm muito medo dos homens. É preciso tratá-los com carinho. Quem não pensa assim, não deve se aproximar deles.”

Por alto, Agenor esclareceu-nos sobre os gastos que tem com o seu Zoologico. O total mensal é de quase sessenta mil cruzeiros. Estão incluídos salários de dez empregados (cinco trabalham de noite), alimentação etc. Os carnívoros consomem mais de 30 quilos de carne por dia. Só os leões, quatro quilos cada.

Nesses gastos, não estão incluídos os preços dos bichos. Os camelos que chegaram há três meses no vapor holandês “Tanabi”, custaram 200 mil cruzeiros. Todas as feras custaram muito caro, mas muito mais caro que todas vai custar um casal de ursos polares que Agenor encomendou de um amigo explorador.

– E pretende continuar com o Zoo? – perguntamos

– “Sim – respondeu-nos o grande amigo dos animais – sinto-me feliz entre os bichos, muito mais do que entre os homens.”