Olavo Bilac relata toda a atenção dada aos animais recém-chegados do zoológico do Rio de Janeiro (Vila Isabel), prevendo o desinteresse do público em poucos meses:
Em torno de cada gaiola, de cada jaula, de cada viveiro, de cada tanque, havia um grupo compacto de zoólatras, admirando os animaes. E eram enternecedoras as perguntas que os visitantes, com a voz trêmula de interesse e ternura, dirigiam aos guardas: Estavam todos os bichos vivos? Nenhum morrera? Continuavam a gozar de boa saúde? Comiam bem? Mostravam-se satisfeitos com a sua nova residência?…”O urso branco, principalmente, atraia a solicitude dos perguntares: “Não estranhara o calor? Suportará bem o banho? Não se deixava ganhar pela nostalgia assassina, moléstia de poetas e de damas sensíveis?…” E o urso branco, insensível aos cuidados que inspirava, melancholicamente se bambaleava sobre as curtas pernas traseiras, agarrando-se com as dianteitas ao tronco de uma goiabeira (…) Felizes bichos! Que os deuses misericordiosos lhes conservem a vida e a saúde no Jardim Zoológico, onde, daqui a pouco tempo, gozarão os indizíveis benefícios e as ineffáveis delícias da solidão, do silêncio e da paz!
Porque, daqui a algumas semanas, a nossa zoolatria terá desaparecido, como tantas outras latrias que já nos exaltaram (…) quando algum jornal noticiar que algum dromedário morreu com saudade dos seus ares ou que o urso branco se está finando com a nostalgia dos seus campos de gelo, toda a gente perguntará: “Que dromedário?”! “Que urso branco?”! –e sem mais indagações continuará a pensar na laria de então, que ninguem pode prever qual será…